Durante anos, a normalidade foi distendida quase até o ponto de ruptura, uma corda cada vez mais esticada, pronta para que uma bicada do cisne negro a partisse em dois. Agora que a corda se rompeu, devemos amarrar as suas pontas uma à outra ou desfazer ainda mais as tranças penduradas para ver o que com elas poderemos tecer?
A Covid-19 mostra-nos que, quando a humanidade está unida por uma causa comum, é possível uma mudança fenomenalmente rápida. Nenhum dos problemas do mundo é tecnicamente difícil de resolver; eles têm a sua origem no desacordo humano. Em circunstâncias de coerência, os poderes criativos da humanidade são ilimitados. Há alguns meses, uma proposta para interromper as viagens aéreas comerciais teria parecido absurda. O mesmo se aplica às mudanças radicais que estão a decorrer nos nossos comportamento social e economia, assim como no que toca ao papel do governo nas nossas vidas. A Covid demonstra o poder da nossa vontade coletiva quando concordamos sobre o que é realmente importante. Numa situação de coerência, o que mais poderemos alcançar? O que queremos nós alcançar e que mundo devemos criar? Essa será sempre a pergunta suscitada por alguém que desperta para o seu poder.
A Covid-19 assemelha-se a uma intervenção de reabilitação que quebra o domínio viciante da normalidade. Interromper um hábito é torná-lo visível; é transformá-lo de uma compulsão numa escolha. Quando a crise terminar, poderemos ter a oportunidade de perguntar se queremos voltar ao normal ou se há algo que vimos durante essa interrupção nas rotinas que queremos trazer para o futuro. Podemos perguntar, após tantos terem perdido os seus empregos, se todos esses serão os empregos que o mundo mais precisa, e se os nossos trabalho e criatividade talvez possam ser mais bem aplicados noutras ocupações. Podemos perguntar, depois de um tempo sem isso, se realmente precisamos de tantas viagens aéreas, férias na Disneyworld ou feiras de carácter comercial. Que partes da economia queremos restaurar e de quais partes podemos conscientemente prescindir? E, focando numa área mais sombria, de tudo o que está correntemente a ser retirado – direitos civis, o direito de reunião, a soberania sobre os nossos corpos, encontros pessoais, abraços, apertos de mão e vida pública – quais desses elementos poderemos precisar de restaurar com recurso a políticas intencionais e vontade pessoal?
Durante a maior parte da minha vida, tive a sensação de que a humanidade estava a aproximar-se de uma encruzilhada. A crise, o colapso, a ruptura estavam sempre iminentes, logo ali ao virar da esquina, mas não vinham, nunca chegavam. Imagine andar por uma estrada e, logo à frente, avista a encruzilhada. É logo ali acima da colina, a seguir à curva, além da floresta. Em atingindo o topo da colina, percebe que estava enganado, que era uma miragem, e que estava mais longe do que pensava. Então prossegue a marcha. Às vezes, a encruzilhada volta a aparecer, outras desaparece de vista. Essa estrada parece interminável. Talvez não haja uma encruzilhada. Não, afinal aí está ela novamente! Está quase sempre aqui. Mas nunca está aqui.
Agora, de repente, contornamos a curva e aqui está ela. Paramos, quase incapazes de acreditar que está realmente a acontecer. Após anos confinados ao caminho dos nossos antecessores, mal conseguimos crer que agora, finalmente, temos uma escolha. Temos todas as razões para parar, atordoados com a novidade da nossa situação. Centenas de caminhos irradiam à nossa frente, alguns levam na mesma direção que já seguíamos. Alguns levam ao inferno na terra. E outros levam a um mundo mais curado e belo que jamais imaginámos ser possível.
Escrevo estas palavras com o objetivo de estar aqui consigo – confuso, assustado talvez, mas também sentindo uma nova possibilidade – neste ponto de caminhos divergentes. Vamos observar alguns deles e ver onde nos conduzem.
* * *
Na semana passada chegou-me a seguinte história de uma amiga: ela estava numa mercearia e apercebeu-se de uma mulher que chorava no corredor. Desrespeitando as regras de distanciamento social, ela aproximou-se da mulher e abraçou-a. “Obrigada”, disse a mulher, “é a primeira vez que alguém me abraça nos últimos dez dias.”
Ficar sem abraços por algumas semanas parece um pequeno preço a pagar para deter a propagação de uma epidemia que pode custar milhões de vidas. Há um forte argumento a favor do distanciamento social no curto prazo: impedir que um aumento repentino de casos da Covid sobrecarregue o sistema médico. Gostaria de posicionar esse argumento num contexto mais amplo, especialmente quando olhamos para o longo prazo. Para que não institucionalizemos o distanciamento e não reconstruamos a sociedade em torno desse conceito, tenhamos consciência de que escolha estamos a fazer e por quê.
O mesmo é válido para as outras mudanças que têm ocorrido em torno da epidemia do coronavírus. Alguns comentadores observaram como o vírus parece encaixar-se na perfeição numa agenda de controlo totalitário. Um público assustado aceita restrições de liberdades civis que, de outra forma, seriam difíceis de justificar, como o rastreamento total dos movimentos, o tratamento médico imposto, a quarentena involuntária, as restrições de viagens e direito de reunião, a censura ao que as autoridades consideram ser desinformação, a suspensão do habeas corpus e o policiamento militar de civis. Muitas destas medidas estavam já em curso ainda antes do despoletar da Covid-19; desde o seu advento, estas passaram a ser irresistíveis. O mesmo acontece no caso da automação do comércio; da transição da participação nos desporto e entretenimento para uma visualização remota; da migração da vida dos espaços públicos para os privados; da transição das escolas locais para a educação online; do declínio das lojas físicas e o mudança do trabalho humano e do lazer para os ecrãs. A Covid-19 está a acelerar tendências políticas, económicas e sociais que já existiam.
Embora todas as opções acima sejam justificadas no curto prazo com o propósito de se alcançar um achatamento da curva (curva de crescimento epidemiológico), também nos vamos apercebendo de um “novo normal”; isto é, as mudanças podem não ser de modo nenhum temporárias. Dado que a ameaça de doenças infecciosas, assim como a ameaça do terrorismo, jamais desaparecerão, as medidas de controlo podem facilmente tornar-se permanentes. Como já seguíamos nessa direção, a justificativa atual deverá fazer parte de um impulso mais profundo. Analisarei este impulso em duas partes: o reflexo do controlo e a guerra contra a morte. A partir deste entendimento surge uma nova oportunidade de iniciação, a qual assumiu já as formas de solidariedade, compaixão e cuidados, inspirados pela eclosão da Covid-19.
O Reflexo do Controlo
No momento em que escrevo, as estatísticas oficiais apontam para que cerca de 25.000 pessoas tenham morrido devido à Covid-19. (Atualização em 25 de Março. Agora, em 2 de Abril, são já 50.000. Não vou continuar a atualizar dado que quaisquer números que eu usar ficarão obsoletos no momento em que a maioria das pessoas ler este ensaio.) Num balanço final, o número de mortos poderá ser dez ou cem vezes superior, ou até mesmo, se os palpites mais alarmantes estiverem correctos, mil vezes maior. Cada uma dessas pessoas tem entes queridos, familiares e amigos. Compaixão e consciência chamam-nos a fazer o que pudermos para evitar tragédias desnecessárias. Isto ressoa em mim: a minha infinitamente querida, mas frágil, mãe está entre os mais vulneráveis a uma doença que mata principalmente os idosos e os enfermos.
Quais serão os números finais? É impossível responder a essa pergunta no momento da redação deste texto. Os primeiros relatórios foram alarmantes; durante semanas, a taxa de mortalidade oficial de Wuhan, que circulava incessantemente nos media, foi de uns chocantes 3,4%. Isso, associado à natureza altamente contagiosa do vírus, apontava para dezenas de milhões de mortes em todo o mundo, ou até 100 milhões. Mais recentemente, as estimativas caíram, pois ter-se-á tornado evidente que a maioria dos casos é leve ou assintomática. Como os testes estavam a ser maioritariamente efetuados em pacientes gravemente doentes, a taxa de mortalidade aparentava ser artificialmente alta. Na Coreia do Sul, onde centenas de milhares de pessoas com sintomas leves foram testadas, a taxa de mortalidade relatada é de cerca de 1%. Na Alemanha, cujo teste também se estende a muitos com sintomas leves, a taxa de mortalidade é de 0,4%. Um artigo recente da revista Science argumenta que 86% das infeções não terão sido documentadas, o que aponta para uma taxa de mortalidade muito menor do que a indicada pelos cálculos atuais.
A história do navio de cruzeiro Diamond Princess reforça essa visão. Das 3.711 pessoas a bordo, cerca de 20% testaram positivo em relação ao vírus; menos de metade apresentou sintomas, oito morreram. Um navio de cruzeiro é o cenário perfeito para contágio, e houve muito tempo para o vírus se espalhar a bordo antes que alguém fizesse algo a respeito, mas apenas um quinto dos passageiros ficou infectado. Além disso, a população do navio de cruzeiro era (como a maioria dos navios de cruzeiro) maioritariamente composta por pessoas da terceira idade: quase um terço dos passageiros tinha mais de 70 anos e mais de metade estava acima dos 60. Uma equipa de investigadores concluiu, a partir do grande número de casos assintomáticos, que a taxa de mortalidade efetiva na China é de cerca de 0,5%. Ainda é cinco vezes maior do que a da gripe. Com base no exposto (e ajustando para uma demografia muito mais jovem em África, assim como nos sul e sudeste da Ásia), o meu palpite é de cerca de 200.000 a 300.000 mortes nos EUA – serão mais caso o sistema médico estiver sobrecarregado, menos se as infecções se espalharem espaçadamente – e 3 milhões globalmente. Esses são números a ter em conta. Desde a pandemia da gripe de Hong Kong de 1968-69 que o mundo não experienciava algo parecido.
Os meus palpites poderiam ser facilmente considerados erróneos. Todos os dias, os media relatam o número total de casos de Covid-19, mas ninguém tem ideia sobre o número efetivo, pois apenas uma pequena proporção da população terá sido testada. Se dezenas de milhões tiverem o vírus de forma assintomática, nunca o saberemos. A alta taxa de falsos positivos nos testes efetuados, possivelmente atingindo níveis como 80%, torna a questão ainda mais complexa. (E pode verificarse aqui que existem ainda mais incertezas alarmantes sobre a precisão do teste.) Deixe-me repetir: ninguém sabe o que realmente está a acontecer, nem eu. Precisamos estar conscientes de duas tendências contraditórias nas questões humanas. A primeira é a tendência para uma histeria que se autoalimenta, excluindo os dados que não causam medo e criando o mundo à sua própria imagem. A segunda é a negação, a rejeição irracional de informações que podem descontinuar a normalidade e o conforto. Daniel Schmactenberger pergunta: Como sabe se aquilo em que acredita é verdade?
Perante tamanha incerteza, gostaria de fazer uma previsão: a crise ir-se-á desenrolar de tal modo que nunca iremos saber. Se a contagem final de mortes, ela própria objeto de disputa, for menor do que se temia, alguns dirão que é porque os controlos funcionaram. Outros dirão que é porque a doença não era tão perigosa quanto nos haviam alertado.
Para mim, o quebra-cabeça mais desconcertante é o motivo pelo qual, atualmente, parecem não surgir novos casos na China. O governo só iniciou as medidas de confinamento das pessoas até bem depois de o vírus já estar estabelecido. Dever-se-ia ter espalhado amplamente durante o Ano Novo Chinês, quando todos os aviões, comboios e autocarros estavam lotados de pessoas que viajavam por todo o país. O que se passa? Eu não sei, e você também não.
Seja o número final de mortos 50.000, 500.000 ou 5 milhões, vamos analisar outros números para poder estabelecer uma comparação. Não quero com isto dizer que a Covid não é tão nociva e que não devemos fazer nada. Mas pense comigo. No ano passado, de acordo com a FAO, cinco milhões de crianças em todo o mundo terão morrido de fome (entre 162 milhões que são atrofiadas e 51 milhões raquíticas). Este é um nível 200 vezes superior ao número atual das vítimas mortais da Covid-19, no entanto nenhum governo declarou estado de emergência ou pediu que alterássemos o nosso modo de vida para salvá-las. Também não vemos um estado comparável de alarme e de ação em torno do suicídio – a mera ponta de um iceberg de desespero e depressão – que mata mais de um milhão de pessoas por ano em todo o mundo, 50.000 só nos EUA. Ou a respeito dos casos de overdose, que matam 70.000 nos EUA, ou a epidemia de doenças autoimunes que afeta de 23,5 milhões (número do NIH) a 50 milhões (AARDA), ou de obesidade, que atinge mais de 100 milhões. Por que, aliás, não estamos tão empenhados em evitar o armagedão nuclear ou o colapso ecológico, mas, pelo contrário, buscamos opções que ampliam ainda mais esses mesmos perigos?
Claro, não defendo a ideia de que, uma vez que não mudámos os nossos hábitos para impedir que as crianças passem fome, então também não devemos alterá-los para a Covid. É justamente o contrário: se podemos mudar tão radicalmente face à pandemia atual, podemos fazê-lo também para essas outras situações. Perguntemo-nos, então, por que somos capazes de unificar a nossa vontade coletiva para conter este vírus, mas não para enfrentar outras ameaças graves à humanidade. Porque, até agora, a sociedade tem estado tão paralisada na sua trajetória até aqui?
A resposta é reveladora. Simplesmente, porque diante da fome no mundo, do vício, da autoimunidade, do suicídio ou do colapso ecológico, nós, como sociedade, não sabemos o que fazer. As nossas respostas a crises, que trazem consigo sempre algum tipo de controlo, não são muito eficazes para lidar com essas condições. Agora aparece uma epidemia contagiosa e, finalmente, podemos entrar em ação. É uma crise para a qual o controlo funciona: quarentenas, bloqueios, isolamento, lavagem das mãos, controlo de movimento, controlo de informações, controlo dos nossos corpos. Isso faz da Covid um receptáculo conveniente para os nossos medos mais rudimentares, um lugar para onde canalizar o nosso crescente sentimento de desamparo diante das mudanças que dominam o mundo. A atual pandemia é uma ameaça que sabemos como enfrentar. Ao contrário de tantos outros medos, a Covid-19 oferece um plano.
As instituições estabelecidas da nossa civilização estão cada vez mais impotentes face aos desafios do nosso tempo. Mais bem-vindo será, nessas circunstâncias, um desafio que finalmente podem enfrentar. Mais ávidas estarão em assumi-lo como uma crise suprema. Mais naturalmente os seus sistemas de gestão de informação selecionarão os retratos mais alarmantes dessa crise. Mais facilmente o público entrará em pânico, acatando essa ameaça com que as autoridades podem lidar como substituta para as várias outras, inaudíveis, contra as quais nada podem fazer.
Hoje, a maioria dos nossos desafios já não sucumbe à força. Os nossos antibióticos e cirurgias não conseguem atender às crescentes crises de saúde, autoimunidade, vícios e obesidade. As nossas armas e bombas, construídas para conquistar exércitos, são inúteis para eliminar o ódio alémfronteiras ou manter a violência doméstica fora das nossas casas. As nossas polícia e prisões não podem curar as condições de reprodução do crime. Os nossos pesticidas não conseguem restaurar o solo arruinado. Já a Covid-19 relembra os bons velhos tempos em que os desafios das doenças infecciosas sucumbiam à medicina e à higiene modernas, ao mesmo tempo em que os nazis sucumbiam à máquina de guerra, e a própria natureza sucumbia, pelo menos aparentemente, às conquistas e melhorias tecnológicas. Essa doença lembra os dias em que as nossas armas funcionavam e o mundo parecia realmente estar a melhorar com cada nova tecnologia de controlo.
Que tipo de problema se curva à dominação e ao controlo? O tipo causado por algo de fora, por algo Outro. Quando a causa do problema é algo íntimo a nós mesmos, como uma situação de sem-abrigo ou desigualdade, vício ou obesidade, não há nada contra o que lutar. Podemos tentar criar um inimigo, culpando, por exemplo, os bilionários, Vladimir Putin ou o Demónio, mas, com esta estratégia, não consideramos informações importantes tais como as condições do terreno que permitiram que os bilionários (ou os vírus) se reproduzissem.
Se há algo em que nossa civilização é boa, é em combater um inimigo. Congratulamo-nos com as oportunidades de fazer aquilo em que somos bons, o que comprova a legitimidade dos nossos sistemas, tecnologias e visão de mundo. E assim, fabricamos inimigos, apresentamos problemas como crime, terrorismo e doenças em termos de “nós versus eles”, e mobilizamos as nossas energias coletivas para as diligências que podem ser vistas dessa maneira. Assim, usamos a Covid19 como um chamado às armas, reorganizando a sociedade como se fosse para um esforço de guerra, enquanto tratamos como normal a possibilidade do armagedão nuclear, o colapso ecológico ou cinco milhões de crianças a morrer à fome.
A Narrativa da Conspiração
Como a Covid-19 parece justificar tantos itens da lista de desejos totalitários, há quem acredite que ela seja parte de um jogo deliberado de poder. Não é meu objetivo promover essa teoria nem desmerecê-la, mesmo que teça alguns comentários a um nível abstracto. Mas primeiro, uma breve visão geral.
As teorias (e existem muitas variantes das mesmas) falam sobre o Evento 201 (patrocinado pelas Gates Foundation, CIA, etc. em Setembro passado) e um relatório da Rockefeller Foundation de 2010, o qual detalha um cenário chamado “Lockstep”. Ambos descrevem a resposta autoritária a uma hipotética pandemia. As teorias observam que a infraestrutura, a tecnologia e o enquadramento legislativo para a aplicação de uma lei marcial estão já em preparação há muitos anos. Seria apenas necessária, dizem, uma maneira de fazer o público abraçar a ideia, o que agora aconteceu. Independentemente de os controlos atuais serem ou não permanentes, um precedente está a ser definido para:
- O rastreamento total dos movimentos das pessoas (por causa do coronavírus)
- A suspensão do direito de reunião (por causa do coronavírus)
- O policiamento militar de civis (por causa do coronavírus)
- A detenção extrajudicial e indefinida (quarentena, por causa do coronavírus)
- A proibição do uso de papel moeda (por causa do coronavírus)
- A censura na Internet (para combater a desinformação, por causa do coronavírus)
- A vacinação e outros tratamentos médicos obrigatórios, estabelecendo a soberania do Estado sobre os nossos corpos (por causa do coronavírus)
- A classificação de todas as atividades e destinos como expressamente permitidos ou expressamente proibidos (o cidadão pode deixar a sua casa por isto, mas não por aquilo), eliminando a zona cinzenta não policiada e não judicializada. Esta totalidade é a própria essência do totalitarismo. Que ficou necessária agora por causa, bem, do coronavírus.
Tudo isto é material suculento para teorias da conspiração. Pelo que sei, qualquer uma dessas teorias poderá ser verdade; no entanto, esta mesma progressão de eventos a que estamos a assistir poder-se-ia ter manifestado tendo como base uma inclinação sistémica inconsciente em direção a um controlo cada vez maior. Mas de onde virá essa inclinação? Está tecida no DNA da civilização. Durante milénios, a nossa civilização (em oposição às culturas tradicionais de pequena escala) entendeu que o progresso passaria por se estender o controlo ao mundo: domesticar o selvagem, conquistar os bárbaros, dominar as forças da natureza, ordenar a sociedade de acordo com a lei e a razão. A ascensão do controlo acelerou-se com a Revolução Científica, que lançou o “progresso” a novas alturas: a ordenação da realidade em categorias e quantidades objetivas e o domínio da materialidade pela tecnologia. Além disso, as ciências sociais prometeram usar os mesmos meios e métodos para cumprir a ambição (que remonta a Platão e Confúcio) de criar uma sociedade perfeita.
Aqueles que gerem a civilização receberão bem, portanto, qualquer oportunidade para fortalecer o seu domínio, pois, afinal, ele está ao serviço de uma grande visão do destino humano: o mundo perfeitamente ordenado, no qual doenças, crimes, pobreza e talvez o próprio sofrimento possam ser projetados para fora da existência. Não são necessários motivos nefastos. É claro que gostariam de manter o controlo sobre todos – tudo em prol do bem comum. Para eles, a Covid-19 mostra exactamente como tal é necessário. “Podemos dar-nos ao luxo de dispor de liberdades democráticas à luz do coronavírus?” perguntam. “Devemos agora, por absoluta necessidade, sacrificar essas liberdades para nossa própria segurança?” É um refrão familiar, pois acompanhou outras crises no passado, como a do 11 de Setembro.
Em jeito de adaptação de uma metáfora comum, imagine um homem com um martelo que anda à procura de um motivo para usá-lo. De repente, ele vê um prego sobressaído. Ele busca um prego há muito, ao mesmo tempo que vai apertando parafusos e porcas sem que se sinta muito realizado. Ele faz parte da visão de um mundo em que os martelos são as melhores ferramentas, e o mundo pode ser melhorado martelando-se os pregos. E aqui está um, finalmente! Podemos suspeitar que, em toda a sua ânsia, o prego tenha sido lá colocado pelo próprio, mas isso pouco importa. Talvez nem seja um prego que esteja sobressaído, mas algo que se assemelha a um o suficiente para que se comece a martelar. Quando a ferramenta está pronta, surgirá inevitavelmente a oportunidade para usá-la.
E acrescentarei, para aqueles que tendem a duvidar das autoridades, que possivelmente desta vez seja realmente um prego. Nesse caso, o martelo é a ferramenta certa – e o princípio do martelo emergirá mais forte, pronto para ser usado no parafuso, no botão, no gancho, na fenda.
De qualquer maneira, o problema com o qual lidamos aqui é muito mais profundo do que o de derrubar um círculo maligno de conspiradores Illuminati. Mesmo que existam, dada a inclinação da civilização, registar-se-ia a mesma tendência sem eles, ou surgiriam novos Illuminati para assumir as funções dos antigos.
Verdadeira ou falsa, a ideia de que a epidemia é uma trama monstruosa perpetrada por malfeitores sobre a população não está muito longe do paradigma de buscar o vírus culpado pelas nossas doenças. É uma mentalidade de cruzada, de guerra. Ela localiza a fonte de uma doença sociopolítica num vírus contra o qual podemos lutar, um vitimador separado de nós mesmos. Com isso, a mentalidade ignora as condições que tornam a sociedade terreno fértil para que a trama possa acontecer. Se esse terreno foi semeado de propósito ou se o foi pelo vento é, para mim, uma questão secundária.
O que vou dizer a seguir é relevante, sejam ou não verdadeiras as seguintes afirmações: que a
Covid-19 é uma arma biológica geneticamente modificada, que está relacionado à implantação do 5G, que está a ser usada para impedir a “revelação”, que é um cavalo de Tróia para um governo mundial totalitário, que é mais mortal do que nos foi dito, que é menos mortal do que nos foi dito, que surgiu num biolaboratório de Wuhan ou em Fort Detrick (EUA), ou que é exatamente como o CDC [N.T. Center for Disease Control and Prevention, EUA] e a OMS nos têm dito. O que vou dizer aplica-se mesmo que todos estejam totalmente errados sobre o papel do vírus SARS-CoV-2 na atual epidemia. Tenho as minhas opiniões, mas se há uma coisa que aprendi ao longo desta emergência é que realmente não sei o que está a acontecer. Não vejo como alguém poderia saber, no meio da quantidade de notícias, fakes news, rumores, informações suprimidas, teorias da conspiração, propaganda e narrativas politizadas que enchem a Internet. Gostaria que muitas mais pessoas aceitassem o não saber. Digo isto tanto àqueles que adoptam a narrativa dominante quanto àqueles que adoptam as narrativas dissidentes. Que informações podemos estar a bloquear apenas com o intuito de manter a integridade dos nossos pontos de vista? Sejamos humildes nas nossas crenças: é uma questão de vida ou morte.
A Guerra contra a Morte
Há duas semanas que o meu filho de sete anos não vê nem brinca com outra criança. Milhões de outras estão no mesmo barco. A maioria concorda que um mês sem interação social para todas essas crianças será um sacrifício razoável para salvar um milhão de vidas. Mas e se fosse para salvar 100.000 vidas? E se o sacrifício não durar um mês, mas um ano? Ou cinco anos? Pessoas diferentes terão opiniões diferentes sobre esta matéria, de acordo com os seus valores intrínsecos.
Vamos substituir as perguntas anteriores por algo mais pessoal, superando o pensamento utilitário desumano que transforma pessoas em estatísticas e sacrifica algumas delas por algo mais. A pergunta relevante para mim seria: pediria eu a todas crianças do país que deixassem de brincar por uma temporada, se isso reduzisse o risco da minha mãe morrer ou o meu próprio risco? Ou poderia perguntar: decretaria eu o fim dos abraços e apertos de mão humanos, se isso salvasse a minha própria vida? Não se trata aqui de desvalorizar a vida da minha mãe ou a minha, ambas preciosas. Sou grato por todos os dias que ela ainda está connosco. Mas essas questões trazem considerações profundas. Qual o caminho certo para viver? Qual o caminho certo para morrer?
A resposta a essas perguntas, seja feita em nome de cada um ou em nome da sociedade em geral, depende de como consideramos a morte e de quanto valorizamos o brincar, o toque e a união, juntamente com as liberdades civis e a liberdade pessoal. Não existe uma fórmula fácil para equilibrar esses valores.
Ao longo da minha vida, assisti à evolução de sociedade que enfatiza cada vez mais a segurança, a proteção e a redução de riscos. Isso afetou especialmente a infância: quando eu era menino, era normal percorrermos uma milha longe de casa sem supervisão – tal comportamento traria hoje aos pais uma visita dos Serviços de Proteção à Criança. Esse ênfase também se manifesta na forma de luvas de látex para mais e mais profissões; desinfectante para as mãos por toda a parte; edifícios escolares trancados, guardados e vigiados; intensificação da segurança nos aeroportos e nas fronteiras; maior conscientização sobre seguros de responsabilidade civil; detectores de metal e pessoas passadas a revista antes de entrar em muitas arenas desportivas e prédios públicos, e assim por diante. Em larga escala, isso tudo assume a forma do estado de segurança.
O mantra “segurança em primeiro lugar” vem de um sistema de valores que prioriza a sobrevivência e deprecia outros valores, como diversão, aventura, brincadeira e o desafio dos limites. Outras culturas tinham prioridades diferentes. Por exemplo, muitas culturas tradicionais e indígenas são bem menos protetoras com as crianças, como documentado no clássico de Jean Liedloff, The Continuum Concept. São-lhes permitidos riscos e responsabilidades que pareceriam insanos para a maioria das pessoas modernas, acreditando que tal é necessário para que as crianças desenvolvam auto-confiança e bom senso. Penso que a maioria das pessoas modernas, especialmente as mais jovens, retém parte dessa disposição inerente de sacrificar a segurança para viver a vida plenamente. A cultura circundante, no entanto, pressiona-nos incansavelmente a viver no medo, construindo sistemas que o incorporam. Neles, permanecer seguro torna-se extremamente importante. Logo, temos um sistema médico no qual a maioria das decisões se baseia em cálculos de risco e no qual o pior resultado possível, marcando o fracasso final do médico, é a morte. No entanto, todo este tempo, sabemos que a morte nos espera de qualquer modo. Uma vida salva, na verdade, significa uma morte adiada.
O cumprimento final do programa de controlo da civilização seria triunfar sobre a própria morte. Na sua impossibilidade, a sociedade moderna conforma-se com uma cópia desbotada desse triunfo: a negação ao invés da conquista. Vivemos numa sociedade de negação da morte, desde o esconderijo de cadáveres, até ao fetiche pela juventude, passando pelo armazenamento de idosos em casas de repouso. Até mesmo a obsessão por dinheiro e propriedade – extensões do eu, como indica a palavra “meu” – expressa a ilusão de que o eu impermanente pode tornar-se permanente através dos seus apegos. Tudo isso é inevitável, dada a história do “eu” que a modernidade oferece: o indivíduo separado num mundo de Outro. Cercado por concorrentes genéticos, sociais e económicos, esse “eu” deve proteger e dominar para prosperar. Ele deve fazer todo o possível para impedir a morte, que (na história da separação) é uma aniquilação total. A ciência biológica ensinou-nos que a nossa natureza é maximizar as nossas probabilidades de sobrevivência e reprodução.
Perguntei a uma médica amiga que passou algum tempo com os Q’ero no Peru, se esse povo, caso tivesse oportunidade, entubaria alguém para prolongar a sua vida. “Claro que não”, disse ela. “Convocariam o xamã para ajudá-lo a morrer bem.” Morrer bem (que não é necessariamente o mesmo que morrer sem dor) não faz parte do vocabulário médico de hoje. Não há registos hospitalares sobre se os pacientes morrem bem. Isso não seria considerado um resultado positivo. No mundo do eu separado, a morte é sempre a catástrofe final.
Mas será que é? Considere esta perspectiva da Dra. Lissa Rankin: “Nem todos nós gostaríamos de estar numa UCI, isolados de entes queridos, com uma máquina a respirar por nós, correndo o risco de morrer sozinhos – mesmo que isso acarretasse um aumento das hipóteses de sobrevivência. Alguns de nós podem preferir ser mantidos nos braços dos entes queridos em casa, mesmo que isso signifique ter chegado nossa hora… Lembre-se, a morte não é o fim. Morrer é ir para casa.”
Quando o “eu” é entendido como relacional, interdependente e mesmo interexistente, ele sangra no outro e o outro sangra no eu. Entendendo o “eu” como um lócus de consciência numa matriz de relacionamento, não se procura mais um inimigo como a chave para entender todos os problemas, mas busca-se, sim, os desequilíbrios nos relacionamentos. A Guerra contra a Morte abre caminho para a procura de uma vida boa e plena, e vemos que o medo da morte é realmente o medo da vida. A quanto da vida renunciaremos para permanecer seguros?
O totalitarismo – a perfeição do controlo – é o produto final inevitável da mitologia do eu separado.
O que mais, além de uma ameaça à vida, como, por exemplo, uma guerra, mereceria controlo total? Orwell [N.T.: no livro “1984”] identificou a guerra perpétua como um componente crucial do governo do Partido.
No contexto do programa de controlo, onde se incorporam a negação da morte e o eu separado, a suposição de que as políticas públicas devem procurar minimizar o número de mortes está quase incondicionalmente aceite, um objectivo ao qual estão subordinados todos os outros valores, como brincadeira, liberdade, etc. A Covid-19 oferece uma oportunidade para ampliar essa visão. Sim, devemos manter a vida sagrada, mais sagrada do que nunca. A morte ensina-nos isso. Consideremos cada pessoa, jovem ou velha, doente ou sã, como o ser sagrado, precioso e amado que é. E no círculo dos nossos corações, vamos abrir espaço para outros valores sagrados também. Manter a vida sagrada não é apenas viver por muito tempo, é viver bem, correta e plenamente.
Como todo o medo, o medo em torno do coronavírus aponta para o que pode estar além dele. Quem passou pela morte de alguém próximo sabe que a morte é um portal para o amor. A Covid-19 elevou a morte a um lugar de destaque na consciência de uma sociedade que a nega. Do outro lado do medo, podemos ver o amor que a morte libera. Deixemo-lo jorrar. Deixemo-lo saturar o solo da nossa cultura e encher os seus aquíferos, de modo a penetrar nas fendas dos nossos sistemas, instituições e hábitos. Alguns destes poderão morrer também.
Em que mundo devemos viver?
Quanto da vida queremos sacrificar no altar da segurança? Se isso nos mantiver mais seguros, queremos viver num mundo onde os seres humanos nunca se reúnem? Queremos usar sempre máscaras em público? Queremos ser examinados clinicamente cada vez que viajarmos, se isso salvar um número de vidas por ano? Estamos dispostos a aceitar a medicalização da vida em geral, entregando a soberania final sobre os nossos corpos às autoridades médicas (conforme selecionadas pelas autoridades políticas)? Queremos que todos os eventos sejam virtuais? Quanto estamos dispostos a viver no medo?
A Covid-19 acabará por enfraquecer, mas a ameaça de doenças infecciosas é permanente. A nossa resposta a essa ameaça define correntemente um caminho para o futuro. A vida pública, a vida comunitária, a vida de fisicalidade compartilhada já vem diminuindo ao longo de várias gerações. Em vez de fazer compras nas lojas, recebemos as coisas em casa. Em vez de grupos de crianças a brincar lá fora, temos encontros marcados para brincar e aventuras digitais. Em vez da praça pública, temos o fórum online. Queremos continuar a isolar-nos ainda mais uns dos outros e do mundo?
Não é difícil imaginar, especialmente se o distanciamento social for bem-sucedido, que a Covid-19 persista além dos 18 meses que nos dizem que ela perdurará. Não é difícil imaginar que novos vírus surgirão durante esse período. Não é difícil prever que medidas de emergência se tornem normais (para evitar a possibilidade de outro surto), similar ao estado de emergência declarado após o 11 de
Setembro que ainda está em vigor nos dias de hoje [N.T.: nos EUA]. Não é difícil imaginar que (como nos dizem) a reinfecção seja possível, fazendo com que a doença nunca termine. Tudo isto significa que as mudanças temporárias no nosso modo de vida podem tornar-se permanentes.
Para reduzir o risco de outra pandemia, escolheremos viver numa sociedade sem abraços, apertos de mão e cumprimentos para sempre? Escolheremos viver numa sociedade em que não mais nos reuniremos em massa? O concerto, a competição desportiva e o festival serão coisas do passado? As crianças não brincarão mais com outras crianças? Todo o contato humano deverá ser mediado por computadores e máscaras? Sem aulas de dança, sem aulas de karaté, sem conferências, sem igrejas? A redução da morte será o padrão pelo qual deveremos medir o progresso? O avanço humano significa separação? É este o futuro?
A mesma pergunta se aplica às ferramentas administrativas necessárias para controlar o movimento de pessoas e o fluxo de informações. No momento em que escrevo, todo o país está a caminhar para o confinamento. Nalguns países, é necessário imprimir um formulário num site do governo para se sair de casa. Isso lembra-me a escola, onde a localização de cada um deve ser permanentemente autorizada. Ou a prisão. Prevemos um futuro de passes eletrónicos, um sistema em que a liberdade de movimentos é governada pelos administradores estatais e seus softwares a toda a hora? No qual cada movimento é monitorizado, permitido ou proibido? E no qual informações que ameaçam a nossa saúde (como decidido novamente por várias autoridades) são censuradas para nosso próprio bem? Face a uma emergência, como um estado de guerra, aceitamos essas restrições e renunciamos temporariamente às nossas liberdades. Semelhante ao 11 de setembro, a Covid-19 ultrapassa todas as objeções.
Pela primeira vez na história, existem meios tecnológicos para concretizar essa visão, pelo menos no mundo desenvolvido (por exemplo, usando dados de localização de telefones móveis para reforçar o distanciamento social; veja também aqui). Após uma transição acidentada, poderíamos viver numa sociedade onde quase toda a vida acontece online: compras, reuniões, entretenimento, socialização, trabalho e até namoro. É isso que nós queremos? Isso vale quantas vidas salvas?
Estou certo de que muitos dos controlos hoje em vigor serão parcialmente aliviados daqui a alguns meses. Parcialmente aliviados, mas mantidos em prontidão. Enquanto as doenças infecciosas permanecerem connosco, é provável que os mesmos voltem a ser impostos no futuro ou sejam autoimpostos na forma de hábitos. Como o refere Deborah Tannen num artigo na Político sobre como o coronavírus mudará o mundo permanentemente: “Sabemos agora que tocar em coisas, estar com outras pessoas e respirar o ar num espaço fechado acarretam riscos. Pode tornar-se natural recusar apertos de mãos ou o toque nos nossos rostos – e todos podemos tornar-nos vítimas de um transtorno obsessivo-compulsivo generalizado, pois nenhum de nós conseguirá mais parar de lavar as mãos.” Depois de milhares ou milhões de anos de contato, toque e união, o auge do progresso humano passará pelo cessar dessas atividades devido ao seu teor arriscado?
Vida é Comunidade
O paradoxo do programa de controlo é que o seu desenlace raramente nos aproxima do seu objetivo. Apesar dos sistemas de segurança instalados em quase todas as casas da classe média alta, as pessoas não estão menos ansiosas ou inseguras do que há uma geração. Apesar de medidas de segurança elaboradas, as escolas não testemunham menos tiroteios em massa. Apesar do progresso fenomenal na tecnologia médica, as pessoas tornaram-se menos saudáveis nos últimos trinta anos à medida que as doenças crónicas proliferaram e a expectativa de vida estagnou, chegando mesmo a declinar nos EUA e na Grã-Bretanha.
As medidas instituídas para controlar a Covid-19 também poderão acabar por causar mais sofrimento e morte do que o que estão a prevenir. Minimizar mortes significa minimizar as mortes que sabemos prever e medir. É impossível medir as mortes adicionais que podem advir, por exemplo, da depressão induzida pelo isolamento ou o desespero causado pelo desemprego, ou a imunidade reduzida e a deterioração da saúde que o medo crónico pode causar. Foi demonstrado que a solidão e a falta de contacto social aumentam a inflamação, a depressão e a demência. Segundo Lissa Rankin, M.D., a poluição do ar aumenta o risco de morrer em 6%, a obesidade em 23%, o abuso de álcool em 37% e a solidão em 45%.
Outro perigo que não está a ser considerado prende-se com a deterioração da imunidade causada por excesso de higiene e distanciamento. Não é apenas o contato social que é necessário para a saúde, mas também o contato com o mundo microbiano. De um modo geral, os micróbios não são nossos inimigos, são nossos aliados na saúde. Um bioma intestinal diverso, compreendendo bactérias, vírus, leveduras e outros organismos, é essencial para um sistema imunológico que funcione bem, e a sua diversidade é mantida através do contato com outras pessoas e com o mundo da vida. Lavagem excessiva das mãos, uso excessivo de antibióticos, limpeza asséptica e falta de contacto humano podem fazer mais mal do que bem. Os distúrbios na imunidade e alergias daí resultantes podem ser piores que as doenças infecciosas que eles substituem. Social e biologicamente, a saúde vem da comunidade. A vida não prospera em isolamento.
Ver o mundo em termos de “nós versus eles” cega-nos para a realidade de que vida e saúde acontecem em comunidade. Tomando o exemplo de doenças infecciosas, não conseguimos olhar para além do patógeno maligno e perguntar: Qual é o papel dos vírus no microbioma? (Veja também aqui) Quais são as condições do corpo sob as quais os vírus nocivos proliferam? Por que algumas pessoas têm sintomas leves e outras graves (além da não-explicação genérica sobre a “baixa resistência”)? Que papel positivo podem ter gripes, constipações e outras doenças não letais na manutenção da saúde?
O pensamento de Guerra aos Germes traz resultados semelhantes aos da Guerra ao Terror, Guerra ao Crime, Guerra às Ervas Daninhas e às intermináveis guerras que travamos, política e interpessoalmente. Primeiro, gera mais guerra sem fim; segundo, desvia a atenção das condições do terreno que geram doenças, terrorismo, crimes, ervas daninhas e todo o resto.
Apesar da eterna alegação dos políticos de que eles alimentam a guerra pelo bem da paz, a guerra inevitavelmente gera mais guerra. Bombardear países para matar terroristas não apenas ignora as condições básicas do terrorismo, como também agrava essas condições. Prender criminosos não apenas ignora as condições que geram o crime, como também cria essas condições quando rompe famílias e comunidades e acultura os encarcerados na criminalidade. O uso de antibióticos, vacinas, antivirais e outros medicamentos causa estragos na ecologia do corpo, que é o fundamento de uma forte imunidade. Fora do corpo, as campanhas massivas de pulverização provocadas pelo Zika, dengue e agora Covid-19 vão causar danos incalculáveis à ecologia da natureza. Alguém já pensou sobre quais serão os efeitos no ecossistema quando as aplicarmos com compostos antivirais? Essa política (que foi implementada em vários locais da China e da Índia) só pode ser pensada a partir da mentalidade da separação, que não entende que os vírus são parte integrante da rede da vida.
Para entender a questão sobre as condições do terreno, considere-se algumas estatísticas de mortalidade em Itália (tendo como fonte o seu Instituto Nacional de Saúde), com base na análise de centenas de fatalidades da Covid-19. Dos analisados, menos de 1% estava livre de graves condições crónicas de saúde. Cerca de 75% sofriam de hipertensão, 35% de diabetes, 33% de isquemia cardíaca, 24% de fibrilação atrial, 18% de baixa função renal, além de outras condições que eu não consegui decifrar no relatório italiano. Quase metade dos mortos tinha três ou mais dessas patologias graves. Os americanos, afectados por obesidade, diabetes e outras doenças crónicas, são pelo menos tão vulneráveis quanto os italianos. Deveríamos culpar o vírus então (que matou poucas pessoas saudáveis) ou devemos culpar a saúde precária subjacente? Aqui, novamente, a analogia da corda esticada é aplicada. Milhões de pessoas no mundo moderno apresentam um estado precário de saúde, apenas esperando por que algo que normalmente seria trivial as faça chegar ao seu limite. É claro que, a curto prazo, queremos salvar as suas vidas; o perigo é que nos percamos em uma sucessão interminável de curtos prazos, combatendo uma doença infecciosa após a outra e nunca enfrentando as condições básicas que tornam as pessoas tão vulneráveis. Este é um problema muito mais penoso, porque essas condições do terreno não mudam via combate. Não há patogénico que cause diabetes ou obesidade, vícios, depressão ou stress pós-traumático. As suas causas não são algum Outro, nenhum vírus separado de nós mesmos do qual sejamos vítimas.
Mesmo no caso de doenças como a Covid-19, para as quais podemos nomear um vírus patogénico, as coisas não são tão simples quanto uma guerra entre vírus e vítima. Existe uma alternativa para a teoria da doença gerada por germes que vê os microrganismos como parte de um processo maior. Quando as condições são adequadas, eles multiplicam-se no corpo, às vezes matando o hospedeiro, mas também, potencialmente, melhorando as condições onde eram hospedados, como, por exemplo, limpando detritos tóxicos acumulados por meio da secreção de muco ou (metaforicamente falando) queimando-os com febre. A “teoria do terreno”, como é às vezes intitulada, diz que os germes são mais sintoma do que causa de doença. Como um meme explica: “O seu peixe está doente. Teoria dos germes: isole os peixes. Teoria do terreno: limpe o tanque.”
Uma certa esquizofrenia aflige a cultura moderna da saúde. Por um lado, há um crescente movimento de bem-estar que abrange a medicina alternativa e holística. Defende ervas, meditação e yoga para aumentar a imunidade. Valida as dimensões emocionais e espirituais da saúde, como o poder das atitudes e das crenças de adoecer ou curar. Tudo isso parece ter desaparecido sob o tsunami da Covid, no decorrer do qual a sociedade passou a adoptar a antiga ortodoxia.
Vejamos este caso: os acupunturistas da Califórnia foram forçados a encerrar as suas atividades por serem considerados “não essenciais”. Esta medida é perfeitamente compreensível sob a perspetiva da virologia convencional. Mas, como observou um acupunturista no Facebook: “E o meu paciente com quem estou a trabalhar para largar os opióides devido à dor nas costas? Ele terá que começar a usá-los novamente.” Na óptica da autoridade médica, as modalidades alternativas, interação social, aulas de yoga, suplementos, etc. são frivolidades quando se trata de doenças reais causadas por vírus reais. São relegadas a um reino etérico de “bem-estar” diante de uma crise. O ressurgimento da ortodoxia sob a Covid-19 é tão intenso que qualquer coisa remotamente não convencional, como a vitamina C intravenosa, foi completamente descartado nos Estados Unidos até há dois dias (ainda existem muitos artigos que desmascaram o “mito” de que a vitamina C possa ajudar a combater a Covid-19). Também ainda não ouvi o CDC evangelizar sobre os benefícios de extrato de sabugueiro, cogumelos medicinais, redução da ingestão de açúcar, NAC (N-acetil L-cisteína), astrágalo ou vitamina D. Essas não são apenas especulações sentimentais sobre “bem-estar”; são alternativas apoiadas por extensa pesquisa e explicações fisiológicas. Por exemplo, demonstrou-se que o NAC (informações gerais, estudo duplo-cego controlado com placebo) reduz radicalmente a incidência e a gravidade dos sintomas em doenças semelhantes à gripe.
Como indicam as estatísticas que apresentei anteriormente sobre autoimunidade, obesidade etc., os Estados Unidos e o mundo moderno em geral enfrentam uma crise de saúde. Será que a solução é manter o que já estávamos a fazer, apenas mais meticulosamente? A resposta até agora à Covid tem sido dobrar a ortodoxia e varrer práticas não convencionais e deixar de lado pontos de vista divergentes. Outra resposta poderia ser ampliar as nossas lentes e examinar todo o sistema, incluindo quem paga por ele, como o acesso é concedido e como a pesquisa é financiada, mas também expandir para incluir campos marginais como fitoterapia, medicina funcional e medicina energética. Talvez possamos aproveitar esta oportunidade para reavaliar as teorias predominantes de doenças, saúde e corpo. Sim, vamos proteger o peixe doente da melhor forma possível no momento, mas talvez, na próxima vez, não seja preciso isolar e drogar tantos peixes, se pudermos limpar o tanque.
Não estou a defender que deva sair agora e comprar NAC [N.T. N-Acetil-Cisteína] ou qualquer outro suplemento, nem que, como sociedade, devemos mudar abruptamente a nossa resposta, interromper imediatamente o distanciamento social e começar a tomar suplementos. Mas podemos usar a quebra do normal, essa pausa numa encruzilhada, para escolher conscientemente que caminho seguiremos, que tipo de sistema e paradigmas de saúde, e que tipo de sociedade queremos. Essa reavaliação já ocorre, à medida que ideias como assistência médica gratuita universal nos EUA ganham novo impulso. E esse caminho também leva a uma bifurcação. Que tipo de assistência médica será universalizado? Estará apenas disponível para todos ou será obrigatório para todos? Cada cidadão um paciente, talvez com uma tatuagem invisível em código de barras, certificando que ele está com todas as vacinas em dia e passou pelos check-ups obrigatórios. Só assim pode ir para a escola, embarcar num avião ou entrar num restaurante. Este é um caminho de futuro que está aberto para nós.
Outra opção também está agora disponível. Em vez de redobrar o controlo, poderíamos finalmente abraçar as práticas e paradigmas holísticos que estão a aguardar à margem, esperando que o coração do sistema se dissolva para que, num estado de humildade, possamos trazê-los para o centro e construir um novo sistema ao redor deles.
A coroação
Há uma alternativa ao paraíso do controlo perfeito que a nossa civilização tenta alcançar há já tanto tempo. Ela retrocede tão rápido quanto progride, como uma miragem no horizonte. Sim, podemos prosseguir como até aqui no caminho em direção a mais isolamento, dominação e separação. Podemos normalizar altos níveis de separação e controlo, acreditar que são necessários para nos manter seguros e aceitar um mundo em que temos medo de estar próximos um do outro. Ou podemos tirar proveito desta pausa, desta quebra no normal, para entrar no caminho do encontro, do holismo, do restabelecimento das conexões perdidas, da reparação da comunidade e do retorno à rede da vida.
Devemos dobrar a proteção do eu separado ou aceitamos o convite para um mundo em que todos nós nos sintamos parte de um mesmo todo? Não é apenas na medicina que encontramos esta pergunta: ela visita-nos política e economicamente, e também nas nossas vidas pessoais. Tomemos, por exemplo, a questão da acumulação, que incorpora a ideia: “Não haverá o suficiente para todos, por isso vou garantir que haja o suficiente para mim”. Uma resposta alternativa a esse dilema pode ser: “Alguns não têm o suficiente, então vou compartilhar o que tenho com eles”. Estamos aqui para assumir o papel de sobreviventes ou de ajudantes? Para que serve a vida?
Numa escala maior, as pessoas estão a fazer perguntas que até agora estavam escondidas nas margens do ativismo. O que devemos fazer com os sem-abrigo? O que devemos fazer com as pessoas nas prisões? Nas favelas do Terceiro Mundo? O que devemos fazer com os desempregados? E todas as empregadas de hotel, os motoristas de Uber, os canalizadores e porteiros e motoristas de transportes públicos e caixas que não podem trabalhar a partir de casa? Agora, finalmente, florescem ideias como o perdão da dívida estudantil e o rendimento básico incondicional. A reflexão “Como podemos proteger os susceptíveis à Covid?” convida-nos à seguinte: “Como podemos cuidar das pessoas vulneráveis em geral?”.
Este é o impulso que está a ser despertado em nós, independentemente da superficialidade das nossas opiniões sobre as gravidade e origem da Covid ou sobre a melhor política para lidar com ela. Esse impulso diz-nos: levemos a sério a ideia de cuidarmos uns dos outros. Lembremo-nos de como todos nós somos preciosos, de como a vida é preciosa. Façamos um inventário da nossa civilização, despindo-a até aos seus alicerces, e vejamos se podemos construir uma mais bonita.
À medida que a Covid desperta a nossa compaixão, cada vez mais pessoas percebem que não querem voltar a um normal onde ela dolorosamente não exista. Agora temos a oportunidade de criar um novo normal, mais solidário.
Abundam os sinais encorajadores de que isso está a acontecer. O governo dos Estados Unidos, que há muito tempo parece cativo de interesses corporativos cruéis, catalisou centenas de bilhões de dólares para pagamentos diretos às famílias. Donald Trump, não propriamente tido como um exemplo de compaixão, estabeleceu uma moratória para execuções hipotecárias e despejos. Certamente poder-se-á olhar para estas medidas com cinismo; no entanto, elas encarnam o princípio do cuidado dos vulneráveis.
Um pouco por todo o mundo, ouvimos histórias de solidariedade e cura. Um amigo contou que enviou US$ 100 por pessoa a dez pessoas desconhecidas que se encontravam em extrema necessidade. O meu filho, que até há alguns dias trabalhava na Dunkin’ Donuts, relata que as pessoas estavam a dar gorjetas cinco vezes mais altas do que o normal – e são pessoas da classe trabalhadora, muitos deles camionistas hispânicos, eles próprios sem segurança económica. Médicos, enfermeiros e “trabalhadores essenciais” de outras profissões estão a arriscar as suas vidas para servir o público. E aqui estão mais alguns exemplos da erupção generalizada de amor e bondade, cortesia do ServiceSpace:
Talvez já estejamos a viver no meio dessa nova história. Imagine a força aérea italiana a passar Pavarotti, militares espanhóis a prestar serviços à comunidade, e polícias de rua a tocar guitarra – para *inspirar* as pessoas. Empresas a conceder aumentos salariais inesperados. Canadianos a inicia r campanhas de “distribuição de gentileza”. O gesto adorável de uma criança de seis anos na Austrália que doa o dinheiro que ganhou da fada dos dentes, uma estudante do 8º ano no Japão que fabrica 612 máscaras, e universitários por toda a parte que compram mantimentos para idosos. Cuba a enviar um exército de “vestes brancas“ (médicos) para ajudar Itália. Um proprietário que permite que os inquilinos fiquem sem pagar renda, o poema de um padre irlandês que se torna viral, ativistas deficientes que produzem desinfectante para as mãos. Imagine. Às vezes, uma crise espelha o nosso impulso mais profundo – podemos sempre responder com compaixão.
Como Rebecca Solnit descreve no seu maravilhoso livro, A Paradise Built in Hell, o desastre geralmente liberta a solidariedade. Um mundo mais bonito cintila logo abaixo da superfície, emergindo sempre que os sistemas que o mantêm debaixo de água afrouxam as suas amarras.
Durante muito tempo, nós, como coletivo, ficámos impotentes perante uma sociedade cada vez mais doentia. Seja a saúde ou a infraestrutura em declínio, a depressão, o suicídio, os vícios, a degradação ecológica ou a concentração de riqueza, é fácil perceber os sintomas de mal-estar civilizacional no mundo desenvolvido, mas nós permanecemos presos aos sistemas e padrões que os criam. Hoje, a Covid presenteia-nos com a possibilidade de um reset.
Um milhão de caminhos bifurcados está diante de nós. O rendimento básico incondicional poderia significar o fim da insegurança económica e o florescimento da criatividade, à medida que milhões são libertados do trabalho que a Covid nos mostrou ser menos necessário do que pensávamos. Ou também poderia significar, com a dizimação de pequenas empresas, a dependência face ao Estado a troco de uma bolsa que vem com condições rigorosas. A crise poderia conduzir ao totalitarismo ou à solidariedade; à lei marcial médica ou ao renascimento holístico; a maior medo do mundo microbiano ou a uma maior resiliência na participação nele; a normas permanentes de distanciamento social ou a um desejo renovado de se unir.
O que pode guiar-nos, como indivíduos e como sociedade, enquanto caminhamos no jardim dos caminhos bifurcados? Em cada entroncamento, podemos estar cientes do que seguimos: medo ou amor, autopreservação ou generosidade. Devemos viver com medo e construir uma sociedade baseada nele? Devemos viver para preservar os nossos seres separados? Devemos usar a crise como uma arma contra os nossos inimigos políticos? Estas não são perguntas do tipo tudo ou nada, medo ou amor. Elas têm a ver, sim, com uma próxima etapa em direção ao amor que está diante de nós. Parece ousado, mas não imprudente. Trata-se de um movimento que valoriza a vida, enquanto aceita a morte. E confia que, a cada passo, o seguinte se tornará visível.
Por favor, não pense que a escolha do amor sobre o medo pode ser realizada apenas através de um ato de vontade, e que esse medo também pode ser vencido como um vírus. O vírus que enfrentamos aqui é o medo, seja o medo da Covid-19 ou o medo da resposta totalitária, e esse vírus também tem o seu terreno. O medo, juntamente com o vício, a depressão e uma série de males físicos, frutifica num terreno de separação e trauma: trauma herdado, trauma de infância, violência, guerra, abuso, negligência, vergonha, punição, pobreza e também o trauma normalizado e silencioso que afeta quase todos os que vivem numa economia monetizada, que passam por uma educação moderna ou que vivem sem comunidade ou conexão com o local. Esse terreno pode ser alterado pela cura do trauma ao nível pessoal, pela mudança sistémica em direção a uma sociedade mais solidária e pela transformação da narrativa básica da separação: o eu separado num mundo de Outro, eu separado de ti, a humanidade separada da natureza. Estar sozinho é um medo primordial, e a sociedade moderna foi-nos deixando mais e mais sozinhos. Mas a hora do Encontro chegou. Cada ato de compaixão, bondade, coragem ou generosidade cura-nos da história da separação, porque garante ao ator e à testemunha que todos estão juntos.
Concluirei invocando mais uma dimensão da relação entre humanos e vírus. Os vírus são parte integrante da evolução, não apenas dos humanos, mas de todos os seres vivos eucariotas. Os vírus podem transferir DNA de organismo para organismo, por vezes inserindo-o na linha germinal (onde se torna herança genética). Conhecido como transferência horizontal de genes, este é um mecanismo primário de evolução, permitindo que a vida evolua dessa união muito mais rapidamente do que seria possível através de mutações aleatórias. Como Lynn Margulis referiu, nós somos os nossos vírus.
E com isto gostaria de me aventurar em território especulativo. Talvez as grandes doenças da civilização tenham acelerado a nossa evolução biológica e cultural, fornecendo informações genéticas importantes e oferecendo iniciação individual e coletiva. Será que a pandemia atual não poderia ser exatamente isso? Novos códigos de RNA estão a espalhar-se de humano para humano, imbuindo-nos com novas informações genéticas; ao mesmo tempo, estamos a receber outros “códigos” esotéricos que se escondem por trás dos biológicos, perturbando os nossos sistemas e narrativas da mesma maneira que uma doença perturba a fisiologia corporal. O fenómeno segue o modelo da iniciação: separação da normalidade, seguido por um dilema, colapso ou prova, seguido (se for para ser completo) por reintegração e celebração.
Mas aqui surge a pergunta: iniciação em quê? Quais são a natureza e os objetivos específicos dessa iniciação? O nome popular da pandemia oferece uma pista: coronavírus. Corona significa coroa. “Nova pandemia de coronavírus” significa “uma nova coroação para todos”.
Podemos já sentir o poder daqueles em que nos podemos tornar. Um verdadeiro soberano não teme nem vida nem morte. Um verdadeiro soberano não domina ou conquista (o que é próprio de um arquétipo das sombras, o Tirano). O verdadeiro soberano serve as pessoas, serve a vida e respeita a soberania de todos os povos. A coroação marca a emersão do inconsciente na consciência, a cristalização do caos na ordem, a transcendência da compulsão para a escolha. Tornamo-nos os governantes daquilo que nos havia governado. A Nova Ordem Mundial que os teóricos da conspiração temem é apensa uma sombra da possibilidade gloriosa disponível para seres soberanos. Deixando de ser vassalos do medo, podemos trazer ordem ao reino e construir uma sociedade intencional com base no amor que brilha já através das fissuras do mundo da separação.
Rigoberto Gurnsey says
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